quinta-feira, 10 de maio de 2007

O encontro com o filósofo

Mais um dia na universidade... vale registrar que a atmosfera acadêmica é uma atmosfera enfadonha e, apesar de procurarem fugir desse tipo de clima por meio de suas representações pessoais, as próprias pessoas que ali circulavam me pareciam enfadonhas também. Um verdadeiro oásis para Freud estudar os distúrbios do ego se ainda estivesse vivo.


Mas fugindo das generalizações (não posso me dar ao luxo de ser tão pessimista), há dias em que realmente algo que, por mais mínimo que possa parecer, faz valer o dia. Esse mínimo que me ocorreu foi encontrar um velho amigo... um filósofo de João Pessoa, nos domínios da UFCG.


Fui convivado a assistir uma palestra que iria ser proferida por ele sobre a filosofia de Nietzsche para uma turma de administração. Era esse o motivo de sua presença na "cidade".


A palestra iria ser ministrada durante uma aula de Introdução a Filosofia, crédito assumido por um excêntrico professor novato que na explicação introdutória antes da palestra, afirmou que a vontade de potência consiste na aniquilação completa do desejo do outro, que Nietzsche era nazista e que criticou os fundamentos da obra "A origem da trajédia" lendo apenas a primeira página do livro. Até aí eu achava que mais pitoresco, não poderia ficar.


Bem, após esse show de virtuosismo, eu ainda esqueci de citar que o motivo do convite que o professor substituto fez ao amigo de JOão Pessoa, foi devido a na aula passada, ter insultado seus alunos por meio de adjetivos não tão acadêmicos como filhos da puta, burros, imbecis, etc. Seria uma abordagem mais engajada da cultura popular na universidade?


Mais indo ao que interessa, a palestra do filósofo de JOão Pessoa começa. Primeiro através de uma montagem de uma panorama histórico do pensamento antigo, medieval e moderno, até se chegar no alvo das atenções, que era o alemão nihil-sifilítico. Em meio as divagações filosóficas inerentes a qualquer explanação subjetiva, um fato conseguiu chamar a atenção dos filhos da puta, burros, imbecis, etc que estavam na sala.


Conta meu amigo filósofo que ao tomar uma caprichada carraspana, em João Pessoa, resolveu, depois de bêbado, andar nú pelas ruas da cidade para ver o que iria acontecer. Segundo o polêmico educador, estava tranquilamente caminhando pelas ruas, quando uma viatura da PM o abordou e perguntaram que diabos era aquilo, antes de zombarem das nádegas expostas do contestador filosofo. E aí creio que todos de bom senso sabem que não é muito sadio provocar um filósofo. Ele retrucou:


- TÁ GOSTANDO DE ME VER NÚ, SEU POLICIAL VIADINHO?


Prontamente, o destemido oficial da lei sacou sua arma e bradou:


- SE VC REPETIR ISSO, EU TE MATO!


Nosso intrépido professor acadêmico, mais uma vez:


- VC QUER ATIRAR, MAS NÃO VAI. POR QUE? PORQUE É UM COVARDE, E ALÉM DISSO, VIADO.


Segundo a narrativa do palestrante, após esse episódio o colocaram dentro da viatura, e o levaram até a delegacia. O delegado, também, espantado diante de tal fato inusitado, perguntou:


- POR QUE VC FEZ ISSO, CARA?


Nosso amigo:


- PORQUE POSSO!


Delegado:


- PODE, MAS TÁ PRESO...


o Filósofo:


- NÃO, EU ESTOU LIVRE AGORA, QUEM ESTÁ PRESO É VOCÊ...


A decisão do bacharel é que levasem aquele detento para o manicômio mas próximo. A sala de aula, nem é preciso dizer, estava mais compenetrada do que tudo na narrativa. Tá uma coisa que chama a atenção de estudantes de administração.


No manicômio, o nosso destemido professor foi amarrado, não antes de morder o braço de um dos enfermeiros que dos quatro que o estavam tentando imobilizar, o que resultou mais tarde em uma sutura de cinco pontos no braço do homem de branco.


Bem, no outro dia liberado, mas ainda sentindo os efeitos do tranquilizantes que tomou, o professor ainda viu vantagem, ao dizer que passou praticamente 1 mês "viajando" de vez em quando com as sequelas do sedativo.


Não sei se isso é veredicto ou não. Tal qual meus argutos leitores, alimento agora algumas incertezas sobre esses fatos. Mas a de se admirar sua literaridade. Eu ví no braço de meu estimado amigo, hematomas variados. Tirem suas conclusões, mas não acreditem em tudo que lêem.




Tudo ficou tão bonito e tocante que não poderia deixar de citar uma frase filósofica para encerrar esse post: "A pessoa se torna eternamente responsável por aquilo que cativa". Não, não se trata de Nietszche, mas de uma passagem do Pequeno Príncipe. Agora cativo extremos...