terça-feira, 11 de março de 2008

A tia não gosta de punks


Caminhando pela universidade me deparo com um cartaz colado na parede de um dos halls da instituição com os avisos de uma mostra de vídeos sobre a questão judaica-palestina, uma oficina de comida vegetariana e de um show, ou no dizer dos punks, uma gig, de algumas bandas locais aqui em Campina Grande, no último domingo, dia 09 de março. "Parece interessante", pensei em relação a gig, que no caso, foi o que mais me chamou a atenção.
Acabei entrando em contato com vários amigos e convidando-os a comparecerem também ao evento, já que seria uma boa oportunidade pra tomarmos algumas cervejas, darmos umas risadas e escutar alguma coisa pesada. No dia da gig, antes de ir pro evento, resolvo dar uma conferida no orkut e tem lá o aviso de Rafael, punk daqui, falando que o show não seria mais no antigo cercado, um bar que reunia o público mais ou menos arrojado da cidade que se identificava através das tribos que estavam integrando e sim, no BAR DA TIA, um boteco de primeiro andar situado próximo ao "cercado", mas sem nehuma tradição alternativa. se é que podemos dizer que em Campina Grande existe alguma.
Acabou que no dia não apareceu ninguém que eu tinha chamado e eu nem sei como, mas convenci minha namorada de ir comigo, logo ela que não é muito chegada nessas tendências mais radicais de música. Lá estava tocando a C.U.S.P.E, banda anarquista levada a frente pelo professor de Antropologia da UFCG, Rogério Zeferino. Letras bem políticas, direcionadas para um ideário libertário, no sentido político do termo. O som é hardcore, com alguns riffs mais lentos, alternados, as vezes. A banda não tem ouvintes somente entre punks, raw punks, hardcore punks, anarco punks, queer punks ou sei lá mais que porra queiram denominar de punk por aí. Alguns headbangers davam uma conferida no som. Em seguida, a banda Aero Venena começou a tocar... foi nesse interim que, ao ir deixar minha namorada no ponto de ônibus, quando voltei, depois de uns 30 minutos, me deparo com o local do show esvaziado e se no andar de cima do bar antes tocavam punks, dessa vez tocava um grupo de pagode formado por típicos campinenses embriagados após um jogo de futebol local. "A rotatividade de estilos por aqui anda alta", pensei; Depois fiquei sabendo que a dona do bar, a tia, ordenou que parassem toda aquela barulheira, que ninguém estava consumindo bebida do bar e, portanto, não tinha motivos para suportar toda aquela afronta que eram os punks com seus moicanos, rebites e pileques. Bom, isso é verdade... geralmente, punks não tem dinheiro pra tomar cerveja a 2,50 em um bar. Que seja... Afinal, a tia não curtiu o som, não virou anarquista e muito menos abriu mão de seu pagode dominical. Creio que temos muito a refletir sobre isso.


P.s.: Se o rapaz de baixo estivesse no show, talvez a tia pensasse duas vezes antes de acabar com a festa, eu acho.