quinta-feira, 22 de abril de 2010

insônia e auto-reflexão.

Pois é... fazendo uma retrospectiva por todo o blog, a essa hora da madrugada, em uma noite que estou sendo atormentado por uma ferrenha insônia, resolvi deletar algumas coisas e velar pela permanência de outras. Não sei o que anda se passando, mas sinto uma necessidade enorme de acertar algumas coisas comigo mesmo, rever algumas das minhas posturas e ser mais tolerante com a diversidade. Será coisa da idade?
Bom, deve ser isso então. Sei que, repentinamente, vi que muita coisa que eu tinha escrito por aqui não eram realmente "meus escritos", mas de meus egos. E esses, com certeza, ando tentando conhecer melhor para cultivar aqueles que me farão evoluir cada vez mais e minar os ditos inferiores, que se contentam com pouca coisa. Hoje em dia já aceito o fato de que preciso usar o meu conhecimento, por mais limitado que seja, para ajudar outras pessoas, não para encerrá-lo em um culto narcisista. Na verdade, isso tem me ajudado muito e me fazendo perceber que escrever é uma grande responsabilidade. Bom dia a todos!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Rio de Janeiro: um drama contínuo


No final de março defendi minha dissertação. O trabalho de pesquisa que desenvolvi por dois anos ficou assim intitulado: Uma outra face da Belle Époque carioca: o cotidiano nos subúrbios nas crônicas de Lima Barreto. Bom, gostaria de partilhar aqui comentários não em torno da conclusão de uma pós-graduação e o quanto esse fato foi significativo e edificante para mim. Gostaria mesmo era de refletir, mesmo que ligeiramente, sobre a situação penosa que esses milhares de desabrigados enfrentam, não apenas de hoje, devido as tempestades que causaram os deslizamentos dos morros cariocas ultimamente, mas desde o começo do século XX.
As favelas cariocas foram assim chamadas devido a uma vegetação, que possui esse nome, no vocábulo popular, que cresce em abundância nos morros que circudam a cidade do Rio de Janeiro. Os militares de baixa patente que defenderam a ditadura florianista e participaram dos massacres contra os adeptos de Antônio Conselheiro, em Canudos, ao retornarem do sertão baiano foram se alocando em torno desses morros, construindo casebres de madeira, latas de querosene e folhas de flandres, aguardando que as promessas feitas por Floriano Peixoto - que prometeu mundos e fundos para os voluntários que se alistaram no exército para combater os canudenses - fossem cumpridas. Ficaram mesmo no ostracismo e na espera.
Com a consolidação da República e os anseoios das elites políticas, sociais e intelectuias de tornarem invisíveis os grandes bolsões de miséria que circundavam o centro da cidade do Rio, no começo do século XX - período que se convencionou de Belle Époque, devido a hegemonia, no ocidente, da cultura francesa - os cortiços, casebres e "zungas" nos quais habitavam toda uma sorte de excluídos, como escravos libertos, marinheiros, prostitutas, trabalhadores fabris, etc. - foram demolidos pela prefeitura municipal, com o aval do governo federal. As pessoas que moravam nessas áreas insalubres e perigosas eram expulsas dessas moradas, sem direito a indenização e as construções infectas eram demolidas. Merece destaque, a administração de Barata Ribeiro e de Pereira Passos, além de Carlos Sampaio, como exemplos de um movimento que ficou conhecido como o "bota-abaixo" da prefeitura carioca.
Não tendo onde morar, essas pessoas carregavam nas costas as sobras que achavam das demolições e as aproveitavam para construir míseros barracos nas encostas dos morros cariocas. Era a disseminação das chamadas favelas. Pois bem, desde essa época, essa parcela da população brasileira vem sofrendo com a marginalidade, a perseguição e a estigmatização de seus costumes, suas formas de indentidades e com o desprezo do governo. Lima Barreto foi um atento intérprete dessa realidade, tomando partido, abertamente, pelos dramas vivenciados pela gente comum, pelos desafortunados da Primeira República.
Hoje, um dos frutos da continuidade dessa política paliativa e excludente com a qual os governos federais e municipais vem tratando a questão da pobreza nas favelas e nos morros são essas lastimáveis mortes. Ao invés de planejamento urbano com inclusão social, temos em pauta medidas assistencialistas e repressivas que mais remetem aos tempos da ditadura militar, do que a uma democracia propriamente dita. Essa gente precisa de um lugar digno para construírem suas casa; com saneamento e transporte, pois são essas as obrigações que o Estado tem de cumprir com toda a população brasileira. É para isso que servem os impostos.
Em uma entrevista a Globo, o prefeito Eduardo Paes falou algo como "os demagogos não irão me afetar". Bem, as cenas de mães, pais, crianças feridas, mortas e da gente desabrigada deveriam afetà-lo. isso não é hora para se estar atacando adversários políticos. Foi a postura mais rídicula por parte de um administrador que poderiámos presenciar. É com muito estarrecimento que estou constatando que o descaso com a realidade vivida pelos pobres e miseráveis do Rio de Janeiro, presente desde os primórdios do Brasil republicano, atingiu as dimensões mais trágicas possíveis em nosso presente.