sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Férias, até que enfim e duas ou três coisas que sei sobre Ginzburg



Férias, vacations, عطلة, vacaciones, vacanza,каникулы, Urlaub... Seja lá qual for a língua deve ser legal pronunciar essa palavra, principalmente quando ela se torna uma realidade tangível. Depois de 1 ano de neuras, a primeira etapa do mestrado terminou e tirando dois artigos e 1 projeto pra ser entregue em fevereiro, coisa que tirarei de letra, tudo segue muito bem. Claro, tirando também o encerramento do mestrado, dado por um famoso historiador, que na minha opinião deferiu opiniões bastante incoerentes e errôneas sobre a produção intelectual do Carlo Ginzburg, autor que, das duas uma: ou ele desconhece completamente ou fez uma leitura silenciadora. Ao menos, contestei sua leitura e esse momento, valeu por ter ficado ali, cerca de duas horas, aguentando escutar, em muitas passagens, verdadeiros absurdos teóricos.
Algumas dicas para quem quer se arriscar a ler Ginzburg, para que, por favor, não saiam propagando as equivocadas opiniões do pós-moderno mor da historiografia brasileira:
1. O fato de O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição ter vendido no mundo todo e ter uma crítica no prefácio a Foucault não invalida essa obra, alicerçada em uma excelente escrita e pesquisa criteriosa, que muito tem a ensinar aos historiadores contemporâneos, mesmo quase 30 anos depois de sua primeira publicação... se for por isso, para usar uma expressão cara a François Dosse, Foucault também vende como pãezinhos.
2. Ao contrário do que disse o grande professor, que "Ginzburg era contraditório por ser contra a ficção na história e escrever como um romancista", quero que alguém me mostre em qualquer livro, pelo menos dos publicados em português, em que algum momento Ginzburg se diz contra a ficção. Muito pelo contrário, consigo detectar vários trechos, inclusive em Um desafio de Sthendal aos historiadores, publicado no Fio e os Rastros: verdadeiro, falso, fictício, nos quais Ginzburg, inclusive, diz que o discurso direto livre, técnica dos romancistas, tem ajudado os historiadores de modo que eles nem imaginam e que Sthendal, enquanto ficcionista, fez o que muitos historiadores irão tentar a vida toda e não irão conseguir realizar: uma crõnica de costumes. Há muitos e muitos trechos, sobretudo também em Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história que se referem as contribuições da teoria literária e das artes para o ofício do historiador.
3. A questão é que Ginzburg parte de uma premissa de que a retórica, na historiografia, não é incompatível com a noção de prova. Isso com base em uma tradição que remete a Aristóteles na Grécia Antiga. Falando em Grécia Antiga, me lembro da metáfora do doce usada por Sócrates para refutar os céticos: se colocam duas taças de doce em uma mesa, ambas taças com doce mesmo e dois sujeitos provam as taças. Se um disser que o doce está doce e outro disser que o doce está salgado, esse precisa ir se tratar.
4. Outra coisa delicada presente na fala do professor: se ele abriu sua palavra dizendo que as verdades nas ciências humanas eram falsas, meros discursos, com base no Nietzsche, para o qual a verdade é um batalhão móvel de metáforas, metonímias e antropomorfismos, já estava estabelecendo seu estatuto de verdade. Então, tudo que ele falou sobre ciências humanas e Ginzburg foram mentiras e se ele disser que são verdades, tá se contradizendo.
Bom, vou articular essas críticas de modo mais sistemático em um artigo, para o ano que vem, que por hora, penso em intitulá-lo: Equívocos e limites da arte de inventar o passado. Agora, penso em desfrutar das férias com a famosa tríade que vem movimentando e alegrando gerações e gerações. De olho também no Rio... para as férias de meio de ano, de 2009, segundo o carioca londrino JC, não sei se é porque estava bêbado, mas disse-me que caso eu vá, tem um barraco para se tomar umas há 500 metros da praia, no litoral sul do Rio: sem favelas, neuras e essas coisas todas, embora eu tenha que ficar uma semana perto da Av. Central, metendo a cara em papéis velhos. No fim, só posso concluir: é bom ter amigos e melhor ainda, ter escolhido ser historiador, pois cada dia que passa, fora as crises existenciais (eheheheeh), vejo que essa profissão me realiza e já começa a possibilitar ótimos momentos!