
Lima Barreto (1881/1922) faria aniversário dia 13 desse mês. Sou suspeito pra tecer qualquer elogio ao escritor, pois é o meu favorito entre os brasileiros. Fadado a boemia, a noites infidáveis de andanças em lugares suspeitos e de baixa reputação, a semanas e semanas de bebedeiras e a uma vida sem reconhecimento, tendo sua candidatura a vaga na ABL ignorada, o único termo que define Lima Barreto é o de escritor maldito. Maldito por ter feito questão de afrontar o culto ao dicionário que os senhores de casaca e picinez, que frequentavam a Livraria Garnier no Rio, chamavam de literatura; maldito por ter sofrido na pele as rotinas sociais da opressão por ser mulato e pobre; maldito por criticar as futilidades e hipocrisias do liberalismo e se afirmar como anarquista, em um tempo que isso era motivo para deportações e exílios; maldito porque se abateu diante da sociedade e buscou refúgio no álcool como forma de evasão, até as últimas consequências. Segue algumas das minhas passagens favoritas que encontro em seu Diário Intímo:
"Eu sou Afonso Henriques de Lima BArreto. tenho vinte e dois anos. Sou filho legítimo de João Henriques de Lima Barreto. Fui aluno da Escola Politécnica. No futuro, escreverei a História da Escravidão Negra no BRasil e sua influência na nossa nacionalidade". (Diário Intímo, p. 33)
"Eu tenho muita simpatia pela gente pobre do Brasil, especialmente pelos de cor, mas não me é possível transformar essa simpatia literária, artística, por assim dizer em vida comum com eles, pelo menos com os que vivo, que, sem reconhecerem a minha superioridade, absolutamente não tem por mim nenhum respeito e nenhum amor que lhes fizesse obedecer cegamente". (Diário Intímo, p. 76)
"Enfim, a minha situação é absolutamente desesperadora, mas não me mato. Quando estiver bem certo de que não encontrarei solução, embarco para Lisboa e vou morrer lá, de miséria, de fome, de qualquer modo" (Diário Intímo, p. 172)
"No dia 30 de agosto de 1917, eu ia para a cidade, quando me senti mal. Tinha levado todo o mês a beber, sobretudo parati (cachaça). Bebedeira sobre bebedeira, declarada ou não. Comendo pouco e dormindo Deus sabe como. Andei porco, imundo" (Diário Intímo, p. 193)
"A segunda vez que estive no hospício de 25 de dezembro de 1919 até a 2 de fevereiro de 1920. Trataram-me bem, mas os malucos, meus companheiros, eram perigosos. Demais, eu me imiscuia muito com eles, o que não aconteceu daquela vez que fiquei de parte" (Diário Intímo, p. 213)