terça-feira, 24 de junho de 2008

As pérolas de Ana Luísa Bartholomeu da UOL sobre o São João campinense


Bem, todo mundo sabe que não sou muito fã de Durval Muniz Albuquerque Jr. e seu pós-modernismo historiográfico, mas vez por outra, é inevitável cita-lo no que diz respeito ao seus estudos sobre "A invenção do Nordeste", livro que lança uma reflexão sobre os processos discursivos na política, nas artes e na literatura que construiram essa noção de um Nordeste atrasado, miserável e arcaico. Pois bem, é nesse sentido que lembrei desse livro, que hoje em dia é bem básico nas disciplinas sobre História Regional e Local dos cursos de História nordestinos ao ler as pérolas escritas sobre o São João em Campina Grande pela enviada da UOL Ana Luísa Bartholomeu.
Sendo bastante generoso com as colocações da réporter, podemos dizer que, por vezes, ela chega a perder o senso do rídiculo defendendo uma visão de Nordeste ainda tão atrasado, preso a imagens coloniais tão barrocas e arcaicas quanto os preconceitos e a exotização que infestaram tanto a sua cabecinha que ela ficou aparenta ter ficado muito decepcionada ao constatar que aqui em Campina Grande existe BMW, internet, shopping, favela, politicagem, etc. É claro que deve ser ponderado que sendo uma cidade com cerca de 400 mil habitantes, Campina Grande tem a dimensão que alguns bairros em São Paulo tem, mas que é uma cidade que tem destaque internacional, sobretudo, não só por essa festa megalomaníaca, que tem mais finalidades políticas do que propriamente preocupações com tradições culturais, mas por exportar softwares pro mundo todo e contar com cursos de graduação que não devem nada aos de cidades maiores, reebendo estudantes do Brasil todo em suas universidades.
Mas, sem mais delongas, vamos analisar algumas pérolas escritas pela ilustre visitante:

23/06/2008 - 09h20

Tradição perde espaço para a modernidade no 'São João' de Campina Grande (PB)

Ana Luisa Bartholomeu
Enviada especial do UOL
Em Campina Grande (PB)

O fato de "São João" está entre aspas já é uma provocação um tanto quanto de gosto duvidável, porque o que será que Ana Luísa entende por São João? Vamos procurar captar nas suas próprias palavras:

"O forró eletrônico é o estilo que mais toca nos alto-falantes. Pelas vielas do Parque do Povo (o coração da festa), espalham-se estandes de vendas de equipamentos eletrônicos e barracas promocionais de patrocinadores. No figurino dos freqüentadores, a ordem é esquecer o vestido xadrez e o chapéu de palha em casa. Meninas usam salto alto e fino, enquanto os garotos calçam tênis, jeans, camiseta e boné. A fogueira, símbolo maior das comemorações juninas, é grandiosa: tem 20 metros de altura. E seria mais se não fosse por um 'detalhe': é iluminada artificialmente." In:http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/06/23/ult5772u152.jhtm

Bom, realmente, a cronista que saiu do centro urbano, da grande metrópole, esperava chegar a longiqüa terra e encontrar os nativos todos a cárater no melhor do estilo Mazzaropi, todos caipirões convictos, de roupas xadrez, botinas, dentes podres e chapéu de palha, que não são esquecidos em casa... quem usa chapéu de palha são os agricultores situados na zona rural do Nordeste, que precisam executar seu labor debaixo de um sol causticante. Mulheres usam sapatos alto e fino, homens usam jeans e tudo mais... Só faltou ela também mencionar que as pessoas também esqueceram as latas de água que deveriam levar na cabeça em casa também. A única definição para essas cobranças de um regionalismo que tem coerência apenas na cabeça de Ana Luísa Bartholomeu é que são rídiculas. Quanto a fogueira... talvez na falta do que falar, resolveu mencionà-la... trata-se de um adereço simbólico... É, Ana Luísa, os nativos exóticos campinenses não seriam assim, tão jecas-tatus, a ponto de fazer, toda noite, uma fogueira real de 20 metros, onde estão concentradas milhares de pessoas... Seria algo tão estúpido quanto você esperar uma fogueira de verdade de 20 metros em um perímetro lotado de gente. Se quiser ver gente assando milho, soltando fogos em volta de um a fogueira, vá aos bairros onde as pessoas acendem pequenas fogueiras e se reunem em volta com a família. O contexto do Parque do Povo é outro...
Bom, procurem vocês mesmos ler os artigos de suma importância jornalística da eloquente culturalista Ana Luísa Bartholomeu... para ser sincero, ser jornalistas desse porte estão trabalhando em grandes empresas de informação, talvez o jeca-tatu aqui, que não anda de chapéu de palha ou roupa xadrez, tenha que enfatizar que as afirmações dessa réporter são totalmente estúpidas, idiotas e até escrotas. Um pouco mais de informação e de atualização seria pertinente para a moça. Afinal, só para encerrar o post enfatizando o anacronismo de suas pré-formulações sobre o que seja são joão em Campina, vale ressaltar que não estamos mais no Nordeste do século XVIII, não é?! Portanto, como diria E. P. Thompson, as tradições foram feitas para serem re-inventadas.




4 comentários:

  1. Adorei o texto. Saiba ainda que a jumenta batizada ainda deturpou uma entrevista com uma amiga minha, a difamando. A história vai terminar na justiça.

    Quanto preconceito e ignorância da Bahia pra baixo, não?!

    Escrevi algo também em meu blog.

    Criticando

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  2. Adorei o texto. Saiba ainda que a jumenta batizada ainda deturpou uma entrevista com uma amiga minha, a difamando. A história vai terminar na justiça.

    Quanto preconceito e ignorância da Bahia pra baixo, não?!

    Escrevi algo também em meu blog.

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  3. A necessidade dos jornalistas em meter o dedo em tudo só dá nisso... Terminam escrevendo merda! Salve, salve ás exceções.

    Bom texto,
    abração.

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  4. Santa ignorância...
    o que acontece é que os jornalista de hoje na realidade estão poucos interessados sobre o que vão escrever, na maioria das vezes o tema que vem na pauta pouco diz respeito a questão de afinidade com os mesmos. Resumidamente acontece isso, o "profissional" não conhece o assunto que vai trabalhar, quando lê algo spbre o tema o faz superficialmente, cosequentemente acabam parindo verdadeiras merdas jornalisticas.

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