segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O cotidiano de um mesário nas eleições municipais campinenses


Saudações! Segunda-feira... Um dia depois dessa grande palhaçada que são as eleições brasileiras veio-me o repente de escrever algo sobre minha primeira experiência enquanto mesário, especificamente presidente de sessão. O 5 de outubro começou pra mim as 05:40 hs. Acordei, tomei um banho quente e resolvi ir até a feira popular que fica aqui perto do apartamento que moro comer algo. Cheguei para a moça de flácidas dimensões que vende comida em um quiosque na feira e pedi algo que para mim já é considerado uma refeição matinal e tanto: cuzcuz com carne moída com um copo de café. Nesse interim, chega um cara e senta do meu lado com bigode grande, chapéu de cowboy, botinas surradas e pede, como café da manhã, um prato de cuzcuz com mocotó de boi, ou seja, cuzcuz com a musculatura da perna do boi cozida: uma comida conhecida por "levantar até defunto" e uma dose de whiskey. Prontamente a moça lhe informou que nesse dia não poderia vender bebidas alcóolicas, mas mesmo assim ele não quis substituir a bebida pelo café: comeu tudo secamente mesmo.
Agora era hora de me dirigir até a sessão eleitoral que fui gentilmente convocado para trabalhar. Segundo a port(c)aria judicial que chegou até minha pessoa "o faltoso a reunião incorrerá nas penas do art. 347 do Código Eleitoral (Crime de Desobediência). Pena: detenção de 03 meses a 01 ano e pagamento de 10 a 20 dias de multa". Ainda se fala em democracia brasileira... Realmente, se qui existisse alguma forma mínima de democracia, a designação dos mesários seria feita de forma voluntária, não por meio de decretos terroristas e autoritários. Na entrada do colégio estadual de Campina Grande chamado Félix Araújo, nome de um prefeito que foi assassinado por um puxa-saco dos Cunha Lima, que álias, já é uma prática comum deles atirarem em seus desafetos, fiscais da oligarquia Cunha Lima e da Maranhista tumultuavam a entrada e enfrentavam aos berros um policial militar. Não quero saber... dei umas cotoveladas em uma côroa de amarelo que estava se acabando na minha frente e um chega pra lá em um cara de gravata vermelha e passei pelo policial.
Entrei na sessão com o material da eleição. Bem, uma das fiscais foi uma aluna que tive quando lecionava em uma escola pública da cidade, experiência que consistiu em uma das minhas grandes decepções educacionais... Chamei os outros mesários para lhes dar 15 reais a cada um: trata-se da generosa quantia que o TRE cede para quem trabalha (é explorado) pela justiça eleitoral. O secretário de sessão, que regula o fluxo de entrada de pessoas na sessão, era especialmente patético. De blusão de time de futebol americano, boné de grife e óculos rayban e tênis de jogador de basquete, parecia uma vitrine de uma loja vagabunda. "Diabos, hoje o dia vai ser longo..." pensei. Na lista de presença de mesários, tinha a pergunta: "deseja trabalhar novamente?". Caso a resposta fosse "não", tinha de justificar. Coloquei que "não", é claro, na hora de justificar, pensei em colocar: "não acredito na democracia brasileira, acho tudo uma palhaçada e não quero contribuir para que, nesse circo de horrores, os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres mais pobres"... dar uma de Lima Barreto. Mas não fui tão espirituoso. Coloquei que no dia das eleições queria ficar livre... livre para nem ir votar, quanto mais trabalhar...
08:00 horas: começa o fluxo de pessoas na sessão e o serviço é simples: trata-se de digitar o número do título das pessoas e liberar a urna eletrônica para elas votarem. De vez em quando apareciam umas figuras folclóricas dado o ar da graça, completando toda a palhaçada. Um cara de uns 40 anos com uma senhora veio votar. Visivelmente tratava-se de alguém com problemas mentais. Ele não conseguia finalizar o voto e aí a velha esbravejava contra ele, do meu lado: "aperta o 15, idiota! o 15!". Antes que ela batesse nele, eu disse: "senhora, é proibida qualquer manifestação partidária nessa sessão"... é cada situação que colocam a gente, em nome de abstrações e de discursos esvaziados...
O freak show continuou das 08:00 até as 17:00 horas. Quando finalizou tudo, a urna vomitou os boletins com os resultados. não via a hora de entregar tudo a um oficial de justiça que estava presente no local e ir pra cara. Nas ruas, senti saudade da tranquilidade da escola. Os dois lados que disputavam o poder comemoravam. Em Campina GRande, tudo é motivo para carnaval, embora não seja o RIo de JAneiro. Pessoas enroladas em bandeiras amarelas e vermelhas pulando e em torno de carros equipados com sons monumentais tocando músicas provocativas. De uma hora para outra, a cidade me lembrou um pouco do ambiente propício as barricadas parisienses... tensões sociais por todos os lados. MAs esse pessoal só consegue criar situações assim quando benefícios e interesses pessoais são ameaçados. Não via a hora de chegar em minha casa, ligar o computador e terminar aquele dia exaustivo jogando ManHunt, um jogo no qual você é o protagonista de um reality show onde tem que matar uma série de desasjustados, entre punks, loucos, psicopatas, mexicanos, policiais etc. que te caçam pelas ruas para que um diretor faça uma serie de filmes snuff. Jogando ManHunt, na pele do psicopata Cash, pensei: "a pessoa que bolou essa trama e a equipe que conseguiu realizar esse jogo, com essa perfeição e todas essas mortes sórdidas, executadas com tacos, martelos, cacos de vidros, arames, armas etc. me faz ainda ter um pouco de fé na humanidade"...


Éis algo construtivo, na linha ManHUnt, que poderíamos
fazer com alguns políticos brasileiros.

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